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Guerra comercial entre EUA e China: o que o e-commerce brasileiro pode esperar?

GESTÃO

Redação

4/14/20254 min read

Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a guerra comercial entre EUA e China voltou ao centro das atenções. As novas tarifas impostas sobre produtos chineses já geram ondas no cenário global e acendem alertas no Brasil — inclusive no setor de e-commerce.

Conversamos com William Israel, diretor executivo da ExpoEcomm, para entender como esse embate geopolítico pode interferir no cotidiano dos lojistas digitais brasileiros.

Como as tarifas do governo americano impactam diretamente os preços dos produtos vendidos por lojas de e-commerce?

As tarifas impostas pelo governo dos EUA, neste primeiro momento, não afetam diretamente o e-commerce brasileiro na importação direta, já que o Brasil já conta com sua própria política de taxação — itens até 50 dólares, por exemplo, podem ser taxados em até 40%, e acima disso, a alíquota pode chegar a 90%. Para os consumidores que importam diretamente, o impacto é mínimo por ora.

No entanto, para quem fabrica ou revende produtos nacionais, o reflexo pode surgir no custo da matéria-prima. Como o Brasil não impôs retaliação, há uma janela de oportunidade para que nossas exportações ganhem força no cenário internacional, o que pode reduzir a oferta interna de matérias-primas e, consequentemente, encarecer a produção local.

Trata-se de um movimento complexo, cujos desdobramentos ainda são imprevisíveis. Mas é certo que estamos vivenciando uma reconfiguração significativa do mercado globalizado, cujas consequências ainda serão sentidas de forma mais clara nos próximos meses.

De que forma as lojas de e-commerce podem ajustar suas cadeias de suprimentos para minimizar os efeitos das tarifas?

O anúncio das tarifas pelo governo Trump foi abrupto, não permitindo que empresas e consumidores se preparassem adequadamente. A instabilidade gerada é percebida nas oscilações do câmbio e nas quedas das bolsas globais — um comportamento semelhante ao que vimos no início da pandemia em 2020.

Diante desse cenário, o empresário precisa manter a calma, adotar uma postura estratégica e acompanhar os desdobramentos dessa guerra comercial. A perspectiva de inflação nos próximos meses é real, por isso, empresas que possuem um capital de giro bem administrado e conseguem antecipar compras de insumos e estoques, podem sair em vantagem.

As lojas online tendem a repassar o custo das tarifas aos consumidores ou buscam alternativas para manter os preços?

O repasse de custos ao consumidor final torna-se inevitável caso haja inflação ou escassez de insumos. O e-commerce, assim como o varejo tradicional, opera com margens reduzidas. Portanto, qualquer aumento no custo operacional tende a ser refletido nos preços finais.

Não há muito espaço para absorver aumentos, e o lojista precisa se adaptar rapidamente para manter o equilíbrio entre custo e competitividade.

Quais estratégias de marketing podem ser adotadas pelas lojas de e-commerce para justificar possíveis aumentos de preços devido às tarifas?

A verdade é que nenhuma estratégia de marketing é capaz de maquiar uma realidade econômica. O consumidor está mais informado do que nunca, acompanha notícias e sente os efeitos no bolso. Neste cenário, o foco deve estar no que realmente importa: excelência no atendimento, agilidade na entrega e controle de estoque.

Em um ambiente de incerteza, fazer o básico de forma eficiente é o diferencial que mantém a confiança do cliente.

Como as tarifas podem influenciar a competitividade entre lojas de e-commerce nacionais e internacionais?

O Brasil já vinha adotando medidas para proteger seu comércio local, como a chamada “taxa das blusinhas”, que visava frear a enxurrada de produtos importados por plataformas como Shein, Shopee e AliExpress.

Como não houve retaliação por parte do Brasil até o momento, a competitividade entre o e-commerce nacional e internacional permanece estável. O ponto de atenção está na possibilidade de a China redirecionar para o Brasil o excedente de produtos que antes eram enviados aos EUA. Se isso acontecer com preços agressivos, o varejo brasileiro, já pressionado por altos tributos e custos operacionais, pode enfrentar ainda mais dificuldades.

As tarifas incentivam um movimento em direção à produção e fornecimento local? Como isso afeta o mercado de e-commerce?

O e-commerce é um ecossistema diverso: há quem fabrique, quem revenda e quem importe. O movimento de incentivo à produção local pode ganhar força, mas ainda é cedo para conclusões.

As medidas adotadas no ano passado pelo governo brasileiro foram mais voltadas à arrecadação de impostos, o que, na teoria, favoreceria a indústria nacional. Contudo, a estrutura produtiva brasileira ainda enfrenta muitos desafios para ser plenamente competitiva. O e-commerce, por sua natureza adaptável, vai reagir conforme os próximos capítulos dessa política global se desenrolarem.

As pequenas e médias empresas de e-commerce em Franca são mais vulneráveis às tarifas em comparação com grandes varejistas? Por quê?

Sem dúvida. As pequenas empresas têm menos poder de barganha e enfrentam maiores dificuldades de acesso a crédito. Quando toda a cadeia de suprimentos é impactada, o pequeno tende a sentir os efeitos com mais intensidade.

Por outro lado, a agilidade é um ponto forte dos pequenos. Eles conseguem se adaptar, mudar estratégias e inovar com mais rapidez do que grandes estruturas. Essa mobilidade pode ser a chave para não só sobreviver, mas prosperar em meio à turbulência.

O aumento de tarifas pode impulsionar a inovação ou a criação de novos produtos alternativos e mais acessíveis?

Sim. A história nos mostra que os maiores saltos de inovação acontecem em momentos de crise. A escassez de recursos, os desafios logísticos e as novas demandas forçam o empreendedor a sair da zona de conforto, buscar alternativas e criar soluções inovadoras — mais baratas, mais eficientes ou mais sustentáveis.

De que forma as políticas de tarifas podem afetar os acordos comerciais e parcerias internacionais no setor de e-commerce?

O e-commerce está inserido no varejo como um todo, portanto, qualquer mudança em acordos e políticas comerciais tem potencial de afetar diretamente o setor — seja para melhor, seja para pior.

Estamos diante de uma guerra comercial de grandes proporções, e ainda não temos clareza sobre os desfechos. Podem surgir novas oportunidades ou novas restrições. O papel dos empresários, dos governos e da sociedade como um todo será acompanhar de perto esses movimentos e traçar estratégias inteligentes para enfrentar o que está por vir.

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